Introdução
A Igreja Católica tem passado por várias etapas de renovação desde o início da sua fundação pelo Nosso Senhor Jesus Cristo. Começa com um grupo de Apóstolos e vai se formando comunidades, todas as comunidades tem o modelo o próprio Cristo Ressuscitado. Através do ensinamento dos Apóstolos e outros missionários, vai se expandindo a mensagem do Ressuscitado, assim nasce o cristianismo, porque se abre para outras culturas e pensamentos diferentes. Cada cultura e povo acolhe e faz experiência de Cristo e compreende a mensagem a partir do seu universo de conhecimento. Por isso, surge as ramificações cristãs.
Na Idade Média chega ao seu auge o cristianismo. Um período no qual a cultura dominante está com a religião cristã. A passagem para a Idade Moderna acontece ao longo dos séculos XIV e XV através de uma transformação na qual os elementos medievais e os elementos modernos coexistem e se entrecruzam numa mútua interação (cf. ALVAREZ GÓMEZ, 1990, p.54). A transformação acontece em todos os setores da sociedade e da cultura. Os descobrimentos geográficos iniciados pelos portugueses no século XV e terminados pelos espanhóis com o descobrimento do novo mundo americano. No início do século XVI, faltando pouco para o surgimento das primeiras Ordens Regulares, o descobrimento dos horizontes geográficos que aportam o conhecimento a novos homens e novas culturas impulsionam uma proposta nova à própria Igreja e à sociedade em geral, não apenas cultural ou comercial que caracterizará mais ainda os posteriores séculos da Idade Moderna, mas sobretudo religioso, como por exemplo, levar o Evangelho aos novos lugares até então desconhecidos. Mesmo os novos mundos geográficos são descobertos, o eixo central da cena política, cultural e religiosa, continua sendo, até a entrada do século XVI, a linha Milão, Roma e Nápoles, o qual significa que “Itália” ainda é considerada o centro em volta a qual gira a política, a religião e a cultura. É um fato a ser considerado, pois, quase todas as Ordens de Clérigos Regulares desta época têm a sua origem fundacional na Itália, a exceções de alguns, por exemplo, Santo Inácio de Loyola e São José de Calasanz, são espanhóis (cf. ALVAREZ GÓMEZ, 1990, p.55). Outro fator que impulsa a transformação são os descobrimentos científico-técnicos. Este traz a marca da Idade Moderna com outros ramos do saber empírico, portanto, surgem pensamentos novos que se impõem perante ao suporte da autoridade eclesiástica. Desta maneira, o saber científico-técnico se converte no denominador comum de toda a cultura moderna. O Renascentismo abandona pouco a pouco o pensamento medieval porque descobrem que as disputas sobre as questões bizantinas não conseguem as melhoras para o cotidiano. Este passo se dá com a disputa e resistência dos pensadores escolásticos tradicionais. Muitas novidades vêm como a bússola, a imprensa, a pólvora em grão, o telescópio, abrem horizontes para o homem. E, os homens renascentistas ficam admirados com os descobrimentos de Colón, de Magalhães, de Leonardo Da Vinci, de Copérnico, de Kepler, de Galileu Galilei.
A Igreja, perante essas transformações científico-técnicas, precisa dar algumas respostas, porque ela vive da promessa de um futuro absoluto, infinito, que supera tudo, pois a plenitude e finalidade do homem será Deus e, por isso tem que oferecer respostas às seguintes perguntas: Como chegar a esse científico-técnico permeável o Evangelho?, que linguagem usar para que não perca o desejo de Deus?, que método seguir para que não perca o caminho da Igreja? Os Clérigos Regulares serão os instrumentos que a Igreja se servirá para dar a resposta a estas perguntas e, para manter ao homem da Idade Moderna no ambiente da fé (cf. ALVAREZ GÓMEZ, 1990, p.59). Neste contexto vem o clamor pela reforma da Igreja. Já desde o século XIV começa a levantar-se diversas vozes pedindo a reforma da Igreja in capite et in membris, ou seja, a cabeça e os membros. No século XV, o Cisma do Ocidente impulsiona mais ainda a reforma da Igreja, o Papa reside em Roma e o antipapa em Avinhão. A calamitosa situação da Igreja tem reflexos em duas vertentes, por um lado, estão aqueles que exigem a reforma com relação à disciplina, culto e organização para voltar aos princípios e aos modelos da praxe cristã anterior; por outro lado, estão os grupos mais radicais que exigem não somente a reforma dos costumes e dos abusos de pessoas, mas reclamam também contra as instituições eclesiais existentes por considerarem uma decomposição do cristianismo. Este segundo grupo desembocará na reforma protestante (cf. ALVAREZ GÓMEZ, 1990, p.65-67). O problema maior é a corrupção estrutural que por sua vez é a causa dos abusos morais por parte dos cleros. Portanto, o verdadeiro problema da Igreja consiste na reforma do clero, desde a cabeça até os pés, ou seja, desde o Papa até o último clérigo da aldeia mais longínqua da cristandade. A consequência disso, os fiéis carecem uma adequada instrução religiosa e não têm frequentados nas Igrejas para receber os sacramentos, não têm cleros preparados para catequizar o povo mais simples, porque existem dois classes de cleros: alto clero da corte e o baixo clero do povo simples sem muita instrução. No meio desta realidade surge os Clérigos Regulares como resposta. O nome Clérigos Regulares se designa aos membros das novas Ordens clericais florescidas ao longo do século XVI, com votos solenes, vida comum e com uma atividade apostólica. É uma nova forma de Vida Consagrada para distinguir dos anteriores chamados Cônegos Regulares. E o Concílio de Trento (1545-1563) afirma essa expressão referindo-se aos religiosos em geral, diferenciando desta maneira, dos clérigos seculares que nós conhecemos como o clero diocesano.
A resposta de Santo Antônio Maria Zaccaria
Santo Antônio Maria Zaccaria vai enfrentar toda essa realidade da Igreja que mencionamos anteriormente. Ele vai se inclinar para reformar o fervor cristão. Ele foi um grande seguidor de São Paulo Apóstolo, viveu somente 37 anos, enquanto estourava a revolução protestante impulsionado por Lutero. A preparação cristã de Antônio é muito boa, porque a mãe o educa num ambiente familiar cristã (cf. CHASTEL, 1943, p.7).
Antes de cumprir os dezoito anos de idade, pelo amor à pobreza evangélica, Antônio Maria renúncia, perante o notário, a herança paterna. Nessa idade ele estuda na universidade de Pádua, concluindo o doutorado em medicina por volta de 1524. Ao voltar para a sua cidade natal, ele se coloca sob a direção do Pe. Marcelo e com ele estuda a Sagrada Escritura e a Teologia, assim sendo leigo, começa a exercer o ministério da catequese para crianças e adultos, incluindo os cleros, na pequena Igreja de São Vital (cf. ERVA e GENTILI, 2006, p.15-16). E, nesse tempo, a Igreja sofria uma grave crise como assinalamos anteriormente, “as instituições, a Vida Religiosa e a própria teologia. Felizmente, as crises são como as enfermidades: num corpo saudável produzem eficazes anticorpos” (MONTONATI, p.13).
As doenças da Igreja vêm das influências pagãs, por causa do Renascimento, por falta de fervor cristão, de fé, de devoção, então a revolução protestante luterana começa a atrair várias pessoas, porque aparenta mais devotos e seguidores de Cristo. Mas, Santo Antônio Maria Zaccaria mostra aos seus seguidores a verdadeira perfeição e fervor cristão.
Ele não se sente digno de ser ordenado sacerdote, mas, após a morte do Pe. Marcelo, vem outro dominicano, Frei Batista de Crema que o convence para ser ordenado sacerdote e recebe a graça da ordenação com 26 anos de idade no ano 1528 (cf. ERVA e GENTILI, 2006, p.17-18).
O Pe. Antônio Maria Zaccaria é caridoso. Ele ajuda numerosos indigentes, triste saldo das guerras, abre a porta da própria casa para cuidar de todos os que precisam de roupa, alimento. “Zaccaria praticava com exatidão as obras de misericórdia prescritas no Evangelho” (SISNANDO, 1970, p.16).
Assim, Santo Antônio Maria Zaccaria colaborou muito com a reforma da Igreja, porque além de ser uma pessoa íntegra, ele tem uma sabedoria que vem de Deus, por isso consegui superar dificuldades na sua juventude e como estudante. No próximo mês, veremos uma parte da vida de Antônio, o jovem estudante.
Referências
ALVAREZ GOMEZ, Jesus. Historia de la Vida Religiosa III: Desde la «Devotio moderna» hastael Concilio Vaticano II. Madrid: Publicaciones Claretianas, 1990. SISNANDO, Pe. José Meireles. Santo Antônio Maria Zaccaria. Fundador dos Barnabitas e das Angélicas. Belo Horizonte: Velloso S.A., 1970. CHASTEL, Guy. Vida de Santo Antônio Maria Zaccaria. Fundador dos Barnabitas e das Religiosas Angélicas precursor da Ação Católica. Petrópolis: 1943. ERVA, A. Maria e Antônio M. Gentili. O REFORMADOR: Santo Antônio Maria Zaccaria (1505-1539). Belo Horizonte: FUMARC, 2006. MONTONATI, Ângelo. Fogo na Cidade: Santo Antônio Maria Zaccaria (1502-1539). Rio de Janeiro: GRÁFICA STAMPA LTDA.
Sobre o autor
Irmão Isaac Segovia – CRSP Irmão Isaac Segovia é religioso, barnabita, da Ordem dos Clérigos Regulares de São Paulo. Ele tem formação em Filosofia, Teologia e atualmente está terminando o Mestrado em Direito Canônico pelo Pontifício Instituto Superior de Direito Canônico no Rio de Janeiro.
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